Já fazia um tempo que eu andava meio desanimado com jogos de luta. Não jogava mais Street Fighter V e mal tinha vontade de me dedicar a algo novo.
Pensei em dar uma chance para o Guilty Gear, Dragon Ball FighterZ e o Unist. Sem sucesso. Todos excelentes, mas a verdade é que eu nunca fui muito bom em jogos mais complexos. Além dos combos que pedem uma execução mais apurada – o que não é o meu forte – tem tanta coisa acontecendo na tela que eu fico até meio perdido.
Street Fighter V me convenceu em sua facilidade. Entretanto, ainda não consigo me acostumar com todo aquele caos proveniente de um V-Trigger ou Crush Counter. E à medida que suas atualizações foram chegando, sem mudanças estruturais significativas, eu aos poucos fui me distanciando. Quando me dei conta, apenas assistia um campeonato ou outro.
Foi na transmissão da Evo de 2019, enquanto torcia por nosso conterrâneo Didimokof, que pela primeira vez vi o novo Samurai Shodown jogado em alto nível. Mesmo sem nunca ter me envolvido com a franquia, era fácil entender o que estava acontecendo ali. A jogabilidade era cadenciada, o neutro intenso e os riscos mais definitivos e calculados. Sem dúvidas, eu gostava do que estava vendo.
O campeonato chegou ao fim com Infiltration sagrando-se campeão depois de uma final eletrizante contra o Kazunoko:
Além dos finalistas, outra figuras conhecidas de diferentes cenas receberam Samurai Shodown de braços abertos. Nomes de peso como Justin Wong, Xiao Hai, E.T., Reynald e Alex Valle marcaram presença. Em seu primeiro ano na Evo, o campeonato teve mais de 1700 inscritos, e diante de tamanho hype, não tive escolha a não ser iniciar também a minha jornada.
Os primeiros passos não foram difíceis. Alguns amigos já estavam jogando Samurai Shodown, e isso contribuiu bastante para minha evolução. Graças a um bom netcode, sempre rola aquele “lobbyzinho” maroto com a galera após o trabalho.
O tempo passou e hoje considero este o meu jogo de luta de cabeceira. Se eu pudesse, o jogaria todo dia. Uma vontade que não tinha desde meus tempos de Garou.
A gente aprende rápido, flui, e o processo é gratificante e divertido. Uma vez que as mecânicas gerais são absorvidas, dá pra transitar tranquilamente de um personagem para outro, o que de certo modo lembra os jogos da série The King of Fighters.
E apesar de não termos combos sofisticados como lá, a leitura de jogo é o que acentua a intensidade nas partidas aqui. Perceber tendências, posicionamentos, comportamentos, riscos e reações é bem decisivo.
A valorização do jogador também é uma característica marcante em “Samsho”. Os ataques ou golpes especiais de alto retorno, têm recuperações longas e são passíveis de punições severas. Às vezes, nem mesmo ativar o estouro de barra – mecânica de comeback – pode corrigir suas decisões anteriores. Com pouquíssimas exceções, tudo o que acontece entre um round e outro é bastante justo. Você erra, e sabe que errou, não tem desculpas.
Vale ainda lembrar que não importa se você é um jogador retranqueiro ou agressivo. A harmonia entre as mecânicas defensivas e ofensivas não te limita, e sim, garante flexibilidade para todos os estilos. Você verá que é possível utilizar o mesmo personagem de maneiras distintas, onde a personalidade do jogador é o que sobressai.
Hoje posso dizer com toda certeza que Samurai Shodown me trouxe de volta para o universo dos jogos de luta. Através de uma experiência revigorante, ele é capaz de unir a simplicidade da nova geração, com a magia que só os clássicos dos anos 90 tem. A SNK mostra que ainda sabe o que faz, marcando aqui o recomeço de uma era promissora para seus jogos de luta.
Samurai Shodown encontra-se disponível nas principais plataformas: Stadia, Switch, PC, Playstation 4 e XBOX One.